O projeto MOBILANG conta atualmente com 8 (oito) linhas de pesquisa:

 

 

1. Contatos de línguas em contextos migratórios 

Pesquisadoras: Sabine Gorovitz e María Carolina Calvo Capilla

 

Na era da mundialização, a intensidade e a diversidade dos movimentos humanos, influenciados principalmente por crises e conflitos de todo tipo, e também pela popularização dos transportes e o fácil acesso à informação, aumentaram de modo exponencial. Dessa forma, as migrações se tornaram uma realidade estrutural, em que milhões de pessoas se encontram em uma situação instável e passageira. Isso dá origem a fenômenos linguísticos cada vez mais diversificados, múltiplos e complexos, por suas origens e motivações, pelas trajetórias que se desenham de acordo com o perfil dos viajantes e também pela casualidade das circunstâncias. Nesse contexto, em que os falantes são levados a entrar em contato com línguas que não são suas, encenam-se dinâmicas de re-contextualização cultural e geopolítica dos fatos e das relações, que resultam dos contatos de línguas, culturas, padrões e recortes da realidade. O desafio é, antes de tudo, compreender como essas novas práticas se impõem na sociedade de acolhimento e, em contrapartida, quais influências os imigrantes sofrem, que os levam a modificar ou não essas práticas, principalmente em termos de repertório linguístico e de fenômenos complexos e variados de misturas linguísticas.

A linha de contatos de línguas em contextos migratórios busca assim descrever esses fenômenos e suas modalidades, identificando as diversas formas de multilinguismo que os movimentos migratórios provocam. Essa abordagem mais global dos contatos linguísticos em contextos migratórios se concretiza por meio de diferentes modelos teóricos e metodológicos, que tentam descrever o fenômeno levando em consideração as especificidades das situações de mobilidade que eles traduzem. A tônica recai sempre nos efeitos sociais dos contatos resultantes das mobilidades, que definem e que são definidos pelas práticas linguísticas e sociais, pelas representações e identidades, sempre em construção.

 

 

2. Multilinguismo e relações de poder na construção da igualdade de gênero

Pesquisadora: Susana Martínez Martínez

 

A diglossia em certas comunidades não só responde a padrões separados para usos diferenciados de uma ou duas línguas em uma comunidade; responde também às relações de poder estabelecidas entre as pessoas nas diferentes sociedades, como acontece com as relações de gênero. A língua usada nas situações formais se limita ao âmbito público, e a língua usada nas situações informais se limita ao âmbito privado. O movimento feminista tem discutido amplamente a separação entre os espaços público e privado, mostrando como as mulheres são normalmente confinadas ao espaço privado, ao lar. Assim, parece que em sociedades multilíngues e que apresentam diglossia, as mulheres ficam confinadas só à língua vernacular pelo fato de estarem limitadas ao âmbito privado, e provavelmente não adquiram a competência comunicativa necessária da língua majoritária faladas nos espaços formais. Entretanto, os homens controlam ambas línguas e interatuam nos dois espaços: público e privado. Deste modo, as mulheres encontram dificuldades, pelas limitações linguísticas, para exercer seus direitos e beneficiar-se de possíveis políticas públicas.

Esta linha de pesquisa pretende recolher informação relacionada à situação das mulheres em sociedades multilíngues e mulheres migrantes, em países com língua diferente a materna, no que concerne as limitações linguísticas no exercício dos seus direitos e da cidadania. Serão analisadas as teorias feministas (Pateman) e da sociolinguística (Fergurson, Fishman) pertinentes, assim como as pesquisas de campo.

 

 

3. Contatos de línguas em produções artísticas de regiões não-hegemônicas

Pesquisadora: Fernanda Alencar Pereira

 

A mobilidade humana é tão antiga quanto nossa espécie, seja por sobrevivência, por estímulo aventureiro ou exploratório. As artes, em suas múltiplas possibilidades textuais, sempre desempenharam papel importante no registro de narrativas, ao contrário da historiografia, que se ocupa de grandes narrativas, mas não expressa, necessariamente, as aflições individuais das vítimas de atrocidades da história humana. O texto artístico, seja ele literário ou não, tem a capacidade de tornar o enredo de uma personagem, com seus sofrimentos e conquistas, em uma história a ser lida, compreendida, questionada, eternizada. Durante o último século, conflitos intensos se pulverizaram ao redor do mundo: “nossa era - com a guerra moderna, o imperialismo e as ambições quase-teológicas dos governantes totalitários - é de fato a era do refugiado, da pessoa deslocada, da imigração em massa” (SAID, 2000, p. 174, tradução própria). Os textos de romancistas e poetas, bem como de outros artistas, apontam para a dor do deslocamento involuntário.

O aspecto da resistência, para confrontar a violência histórica, habita textos oriundos de nações e continentes diferentes. No âmbito das literaturas e artes africanas pós-coloniais, encontramos com frequência textos que trazem em sua composição a presença de uma ou mais línguas que subjazem a língua de expressão principal. Em outras situações, nos deparamos com a língua da fronteira, também fruto do contato imediato entre culturas e da subjugação de uma delas. Buscando entender as formas de contato de línguas e culturas, tratamos do tema da resistência artística, que faz da cicatriz histórica uma criação estética combativa. Discutindo os limites fluídos entre as línguas, analisamos as diversas faces dos encontros linguísticos, inclusive quando esses estão “disfarçados” sob uma capa ilusória de monolinguísmo. Esta linha, além da análise de textos, também se dedica à tradução literária e à legendagem de filmes que lidem com as temáticas acima.

 

4. Línguas em contato na Web

Pesquisador: Francisco Claudio Sampaio de Menezes

 

O contato entre as línguas assumiu uma nova dimensão, a partir da eliminação de barreiras territoriais resultante do surgimento da Internet e do uso do formato hipertexto em documentos digitais (World Wide Web). Nesse contexto, a presente linha de pesquisa do MOBILANG se dedica às questões relativas ao acesso a conteúdos digitais em português por estrangeiros, em suas múltiplas dimensões científicas. Ao lado das questões linguísticas, temas envolvendo multimodalidade, multilinguismo/plurilinguismo, inclusão digital e tecnologias linguísticas serão objeto das pesquisas dos projetos a serem desenvolvidos. Em um primeiro momento, serão abordados temas de interesse do bilinguismo franco-brasileiro, embora em etapas posteriores outros pares de línguas possam igualmente serem estudados.

 

 

5. Terminologia da mobilidade

Pesquisadora: Elisa Duarte Teixeira

 

Um dos dos problemas observados na fase inicial do Projeto MOBILANG foi a dificuldade de comunicação experimentada por imigrantes e refugiados junto às instituições públicas e não-governamentais envolvidas em seu acolhimento. Assim, um dos objetivos do Projeto consiste em criar e implementar soluções linguísticas para facilitar a integração social desses indivíduos. Isso envolve, entre outras coisas, a criação de materiais de consulta e referência diversos, além de aplicativos e ferramentas que possam auxiliar a interação linguística e cultural entre refugiados, intérpretes e demais pessoas e órgãos envolvidos.

Um passo necessário para essa empreitada consiste no estudo e sistematização da terminologia multilíngue envolvida nessas situações de comunicação, o que vamos fazer utilizando a abordagem teórico-metodológica da Linguística de Corpus. As principais etapas do trabalho compreendem a compilação de um corpus eletrônico multilíngue contendo textos envolvidos nessas interações ou a ela relacionados, e a criação de um banco de dados terminológico multilíngue para abrigar os dados extraídos do corpus resultante. Ambos serão consultáveis e servirão de base para a criação de materiais de apoio e estudos diversos sobre o tema imigração e refúgio.

 

 

6. Intercompreensão

Pesquisadora: Claudine Franchon

 

As representações, a aprendizagem das línguas românicas são áreas que oferecem muitas possibilidades no âmbito dos estudos sociolinguísticos. No cenário de uma educação plurilíngue, propõe-se produzir ferramentas didáticas interlinguísticas, sob o enfoque conceitual da intercompreensão (IC) em relação com a problemática das línguas em contato. Centrando-se no grupo românico, contribuímos acerca da temática intercompreensiva com trabalhos sobre o português, francês, espanhol e italiano, procurando apontar as conexões entre essas línguas através do componente lexical.

 

 

7. Políticas e direitos linguísticos em contextos migratórios e acadêmicos

Pesquisadoras: Angela Maria Erazo Munoz, Rachael Radhay, Fernanda Garcia e Sabine Gorovitz

 

Este eixo reúne duas vertentes: por um lado, investiga as politicas linguísticas na construção do conhecimento científico e internacionalização das universidades brasileiras com base na integração regional latino-americana; por outro, foca nas políticas linguísticas para garantir o acesso aos direitos humanos dos imigrantes que chegam ao Brasil, especialmente em sua relação com as instituições públicas. Na primeira vertente, parte-se do pressuposto de que a internacionalização das universidades latino-americanas vem reforçando a assimetria que contribui para a manutenção de uma ciência monolíngue, atualmente anglófona, quando poderia oportunizar a consolidação de um espaço acadêmico regional comum. Essa construção se dá a partir do reconhecimento de um espaço geográfico e econômico comum, mas sobretudo de um espaço social alicerçado em saberes científicos. Analisamos questões específicas, como a implementação de políticas linguísticas capazes de abrir espaço às línguas de veiculação do conhecimento global sem prejuízo dos idiomas locais. A segunda tem enfoque na implementação de políticas linguísticas institucionais para garantir os direitos garantidos dos cidadãos estrangeiros. De fato, ainda que o país apresente um cenário historicamente consolidado de contatos entre populações e línguas, as discussões em âmbito institucional em torno das questões linguísticas são insipientes. Essas deficiências institucionais com relação às comunidades migrantes e seus direitos linguísticos têm sido compensadas por iniciativas solidárias e discussões restritas à academia e à sociedade civil por meio de organizações não governamentais e religiosas, ainda que muitas ações sejam implementadas em diálogo com instituições públicas.

A ausência de política e mecanismos de inclusão linguística efetivos revelam como o Estado brasileiro não está conseguindo respaldar adequadamente suas instituições públicas na garantia dos direitos dessa população. Nesse contexto institucional, as pesquisas focam a chamada integração linguística dos imigrantes recém-chegados no Brasil. Para discutir esse tema, aborda-se por um lado a relação entre as práticas em meio à diversidade linguística e cultural, que simultaneamente consolida e ameaça a coesão social; por outro, a questão estruturante da gestão das línguas, seja por um mesmo indivíduo, inserido dentro de uma comunidade, de um país ou de um continente, seja por um grupo ou uma coletividade, por meio da implementação de políticas linguísticas, com seus múltiplos desdobramentos sociais. Trata-se, em suma, de discutir as relações que se estabelecem entre os falantes e as estratégias por eles desenvolvidas, frente às políticas, implícitas e explícitas, implementadas no enfrentamento e na gestão da presença dos imigrantes no país.

 

8. Laboratório e-LEArning: um ambiente virtual multilíngue para o ensino e aprendizagem de Terminologia, Corpus, e Tradução

Pesquisador: Marcos de Campos Carneiro

 

Este laboratório destina-se a apoiar atividades de pesquisa e ensino multilíngues presenciais e à distancia, orientado à estudantes e professores do bacharelado em Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação (LEA-MSI). Trata-se igualmente de uma linha de pesquisa voltada à observação das mobilidades de conteúdos linguísticos (lexicais e terminológicos) coletados em corpus de obras técnicas, científicas, literárias e cinematográficas em língua portuguesa e suas respectivas traduções. Nesse âmbito, Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) possibilitam o desenvolvimento de atividades realizadas no laboratório de informática, a fim de analisar a maneira pela qual tais conteúdos se deslocam de um contexto cultural para outro. Sob este angulo, é possível observar fenômenos vinculados à recepção de diversas obras em corpora eletrônicos especializados, literários, e audiovisuais em língua portuguesa, francesa, espanhola e inglesa.